Gatos e Superstições
Aproxima-se uma sexta-feira 13. Deveria ser um dia normalíssimo, como qualquer outra sexta-feira. Mas para muitos dos nossos amigos gatos não é o. E para os humanos que acolhem pequenas “panteras” em tantos lares, deverá ser um dia de alarme vermelho. Velhas superstições continuam à solta, levando muitas pessoas a cometerem actos deploráveis de ignorância e brutalidade contra os gatos pretos.
Se têm um companheiro gato preto, por favor, não o deixem sair nesse dia, de jeito nenhum! Mesmo que ele vos deite a casa abaixo com miados suplicantes. É absurdo, eu sei. Contudo, todos os cuidados são poucos quando se trata de barbaridades. Pensamos sempre, com orgulho, que a Humanidade tem feito tantos progressos nestes últimos séculos. E isso é verdadeiro, em muitos campos importantíssimos para a vida humana e animal. Porém, há o reverso da medalha: as mudanças de mentalidade são lentas e nem sempre harmoniosas.
Não julguemos severamente aqueles que ainda não despertaram as suas consciências. Cada qual possui um ritmo próprio de evolução, e ninguém está isento de cometer erros. O que podemos fazer? Combater a sombra com a sombra nunca deu bons resultados. Está nas nossas mãos enviar-lhes Amor e Luz, para que em breve consigam romper com as suas próprias trevas e tornarem-se, também eles, livres de crenças equivocadas, limitadoras e destrutivas.
De onde vem esta superstição dos gatos pretos? O significado de um gato preto depende muito do valor que a pessoa que se cruza com ele lhe atribui. Para muitos, sobretudo no Oriente, um gato preto é um portador de boa sorte, de serenidade e de energias positivas. Outros, principalmente no Ocidente, ligam-no à má-sorte e às forças do mal.
De criatura amada, respeitada e até divinizada na Antiguidade - como acontecia no Antigo Egipto -, o gato passou a ser perseguido com o advento do Cristianismo no Ocidente. A Igreja, decidida a irradicar os cultos pagãos, atribuiu-lhe poderes maléficos, opondo-se a tudo aquilo que ele simbolizava: feminilidade, sensualidade, esoterismo, intuição e percepções psíquicas. Um número incalculável de gatos foram torturados e extreminados nesses séculos, juntamente com inúmeras mulheres que criavam gatos e conheciam propriedades terapêuticas de certas plantas, acusadas de bruxaria e de cumplicidade com o diabo.
A Inquisição foi grandemente responsável por massivas perseguições contra as presumíveis bruxas e os seus gatos, em especial os gatos pretos. São Francisco de Assis opôs-se a esta insanidade, não fazendo distinção entre os animais pois considerava-os a todos criaturas de Deus. Mas foi um caso isolado, bem como uns poucos mosteiros onde os monges criaram gatos. Entre 1400 e 1600, a “caça às bruxas” e aos “gatos das bruxas” foi particularmente intensa, destruindo milhares de vidas inocentes. Só a partir do Iluminismo, o gato seria reabilitado. Começou a aparecer nas artes e na literatura, e reconquistou um lugar de honra nos lares de muitos artistas, filósofos e poetas, que o passaram a eleger como companheiro da sua solitude. Instalaram-se nos palácios dos nobres e dos reis e rainhas. Maria Antonieta adorava de tal modo os seus gatos, que quando a ameaça da Revolução Francesa chegou a Versailhes, ordenou que fossem levados num navio para o Novo Mundo (Estados Unidos da América) para os salvar. Eles sobreviveram e criaram descendência, dando mesmo origem a uma nova raça. Ela não.
No entanto, seria necessário esperar até à segunda metade do século XIX para que os gatos resgatassem por completo o seu antigo fascínio sobre os humanos. Temos de agradecer, entre muitos, a Louis Pasteur que todos conhecemos como o “pai” da pasteurização, por nos seus estudos sobre bactérias e doenças infecciosas ter mencionado o gato como exemplo a seguir na luta contra as doenças, devido à sua dedicação escrupulosa à higiene pessoal.
Texto e imagem de Isabel Brás ©2015 |