Tobias: Miau... bom-dia Humana Bé! Estás tão quieta, o que estás a fazer? Humana Bé: Bom-dia Tobias, dormiste bem? Estou aqui a pensar como vocês, gatos, são tão extraordinários. Tobias: Bem... modestia à parte, é verdade. E pelo que me apercebo, há imensos humanos que pensam como tu. Porque é que vocês gostam tanto de nós? Humana Bé: Olha, em primeiro lugar pela vossa inteligência, elegância e agilidade. Não encontro igual. O vosso ar sempre altivo e magestoso. O modo como caminham. E como correm. Como trepam às árvores e afiam as unhas nos seus troncos. Como se esgueiram por espaços tão pequenos. Como brincam e maneiam as cabecitas e arqueiam o corpo quando o fazem. Então a forma como se espreguiçam depois de uma soneca, é deliciosa! Tobias: E mais, e mais? Humana Bé: Tudo em vocês me seduz. Gosto muito de tocar no vosso pêlo, é macio e sedoso. Acariciar-vos baixa-me a pressão arterial e acalma-me. Adoro quando alçam o rabito e vêm direitos a mim, roçam-se nas minhas pernas e dão-me marradinhas. Quando me cheiram. Mesmo se possuem uma língua um tanto ao quanto áspera, gosto quando me lambem, fazem-me cócegas. Gosto de ver essas linguitas quando bebem. Depois, começam um engraçado ritual de higiene, lambendo os bigodes; seguem-se as lambidelas nas patas, para passá-las por sobre as orelhas e por todo o focinho. E quando me fixam com os vossos misteriosos olhos, fico intrigada. Parece mesmo que conseguem ver o interior da minha alma! Tobias: É não é que “vemos” mesmo? Humana Bé: Há quem diga que vocês são telepáticos. Eu acredito. Aliás, estou a comunicar contigo neste momento, não estou? Caso contrário, como estaríamos a ter esta conversa? Tobias: Alguém pode sempre alegar que não passa de imaginação humana. Humana Bé: Há muita gente céptica neste mundo. Respeitemos a sua opinião. Mas no entretanto, onde é que nós íamos? Tobias: Nos nossos misteriosos olhos... Humana Bé: Oh sim, os vossos olhos! Azuis, verdes, amarelados... gosto de todas as suas cores. E parece que combinam sempre bem com os vossos “casacos” de pêlo, com padrões tão variados. Tobias: O Alfaiate-Mor tem muito bom gosto. Humana Bé: Quem acha que a perfeição não existe, não gosta de gatos. Tobias: Estás-me a deixar encabulado com tanto elogio, eheheh. Humana Bé: São mais que merecidos para quem nos dá tanta alegria. Pelo menos a mim sucede assim. Todos os gatos que encontro são fonte de uma alegria que não consigo explicar com meras palavras. Jorra de dentro, é pura, genuína e infindável. Tobias: Percebes agora a nossa principal missão na Terra? Humana Bé: Sim, percebo. E sou-vos muito grata. Tobias: Não tens de quê. Mesmo que muitos humanos ainda não compreendam e nos maltratem, aceitamos de bom grado fazer parte da vossa experiência e dar-vos um pouco de alegria. Humana Bé: Infelizmente ainda existem muitos de nós que vos perseguem e maltratam. Isso deixa-me muito triste. Tobias: Não fiques triste. E não julgues mal a tua família humana. Está ainda a evoluir e tem muito que aprender. Por exemplo, a eliminar a ignorância e o medo. A ignorância e o medo leva muitos de vocês a serem prepotentes e violentos. Mas à medida que as vossas consciências forem despertando e vocês forem trabalhando no vosso interior, tudo irá melhorar. Para vocês, e também para nós que vos acompanhamos na vossa aventura. Humana Bé: Tens razão. Temos de ser pacientes uns com os outros. Cada um encontra-se no seu nível de consciência e não temos o direito de exigir aos outros coisas que eles ainda não são capazes de nos dar. Tobias: Um dia tornar-te-ás tão sábia quanto eu. Humana Bé: Quem me dera! Estou a aprender imensas coisas contigo e isso já me deixa feliz. Oh... mas olha só as horas! Nós aqui na conversa e o cozinhado que deixei ao lume a queimar-se. Vou já para a cozinha antes que seja tarde. Senão, hoje não há jantar. Falamos mais tarde? Tobias: Miau... claro que sim. Vou voltar à minha almofadinha para mais um soninho. Daqui a pouco chama-me. Não te esqueces também da minha paparoca? Texto e imagem de Isabel Brás ©2014 |